Como vender “sustentabilidade”?

 

Depois do sucesso do primeiro Meet the Maker, com o tema “A Costumização como um novo Luxo em Portugal”, a expectativa era enorme para o segundo encontro de makers organizado por nós. Nem a localização, mantida em segredo até ao dia anterior, impediu que as inscrições esgotassem em apenas dois dias. O tema, qual bicho de sete cabeças, foi sustentabilidade e suscitou o interesse imediato e a presença atenta de marcas portuguesas de vestuário, joalharia e calçado. A arquitetura e o mobiliário estiveram igualmente muito bem representados.

Fotografia Miguel Silva Rocha

 As portas do L’ Atelier des Créateurs, o reconhecido atelier de alfaiataria localizado em plena baixa da cidade do Porto, abriram-se à hora marcada. Depois do check in, os convidados receberam uma caneca personalizada com a frase “I’m a Fashion Maker”, adiantando que, tal como as peças de alta costura criados neste espaço, tudo foi pensado ao mais pequeno pormenor, com o menor impacto no planeta. De seguida, cada convidado é convidado a sentar numa máquina de costura. Em pleno coração da unidade de produção, fazem-se as primeiras apresentações e é lançado o tema: “Como vender sustentabilidade?

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 O debate começa com o contributo das quatro oradoras e moderação da jornalista Eliana Macedo. Quatro perspectivas complementares, que abordam todo o ciclo de vida do produto, desde a matéria-prima até à comunicação para o consumidor final. Kaleigh Tirone Nunes, co-fundadora da Fashion Catalyst, dá início à conversa, reforçando a necessidade de catalizar o setor e a necessidade de agir. “Temos a responsabilidade de pensar “Vou fazer alguma coisa!”, incentiva em tom de desafio, “todos temos a responsabilidade de encontrar uma solução para melhorar!”.

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O público acena afirmativamente, enquanto a palavra é passada a Ana Silva, diretora de sustentabilidade da Tintex Textiles. “Limitar a visão da sustentabilidade à matéria-prima é muito redutor”, inicia. Para a engenheira de sustentabilidade, o termo sustentabilidade deve considerar mais do que a escolha de uma malha ou tecido orgânico, reciclado ou biodegradável. Introduz o conceito de rastreabilidade. Sustentabilidade significa também uma consciencialização no que toca às condições de trabalho e remuneração dos produtores e confecionadores, ao consumo de água e ao processo de tingimento. Ana Silva destaca ainda alguns projetos inovadores da Tintex Textiles, como o Picasso e Texboost e conclui “a melhor forma das marcas e designers assegurarem que estão a trabalhar com uma matéria-prima sustentável é visitarem as fábricas e questionarem os fornecedores”.

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 Foi isso que fez Ana Costa, criadora da Baseville, uma marca de vestuário portuguesa que trabalha em transparência numa ótica 360º, com o objetivo de deixar a menor pegada possível. Da escolha do material, dos processos de tingimento/acabamento e dos confecionadores até à comunicação e embalagem. Avança: “Há consumo que é totalmente racional. Nós conseguimos mudar a alimentação porque percebemos que nos faz mal e vemos as alterações no nosso corpo. A mesma coisa com o plástico de uso único, porque vemos o impacto que tem no ambiente. Mas na moda, não! O consumo moda é totalmente emocional.

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 A responsável da Baseville aproveita o debate para lançar o manifesto da marca #MyFashionResolution, desenvolvido em colaboração com o Fashion Makers Studio. E é precisamente aqui que tem inicio a intervenção de Joana Campos Silva. Traz-nos a visão de quem constrói e comunica marcas de moda, dando como exemplo os case study das marcas Tintex Textile e Baseville. O primeiro passo é “definir o nosso propósito”, indica Joana, avançando que cada marca deve focar-se em defender uma causa dentro do amplo conceito da sustentabilidade. Para a construção de uma marca forte, é também essencial entender que “as pessoas compram coisas bonitas, não sustentabilidade”, reitera.

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A par de um design inteligente e apelativo, deve-se manter a coerência ao desenvolver todos os materiais-gráficos, estratégias de comunicação e rótulos do produto. O conceito de greenwashing (marketing verde) é também abordado, ficando o alerta de que a falta de honestidade e transparência pode conduzir à descredibilização da marca junto do consumidor. De acordo com a fundadora do Fashion Makers Studio, “temos que perceber o que estamos a comunicar, para não enganar o cliente com a nossa comunicação”. As marcas têm que ser informar junto de especialista que têm o mindset para a sustentabilidade, para não cairem no erro de desorientarem as práticas da marca, abalando a confiança do consumidor nas suas reivindicações éticas e ecológicas.

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Depois de cerca de uma hora de partilha, segue-se a intervenção do público e abre-se o diálogo a outros setores. Reforça-se a necessidade de união através de parcerias, fala-se do papel fundamental das marcas em esclarecer e consciencializar o consumidor. Traçam-se como objetivos futuros o design responsável, que propõe a criação de produtos que sejam duráveis e intemporais; a redução do consumo e a promoção de alternativas, como a reutilização, aluguer e reparação; assim como de políticas de devolução das matérias; e de uma maior proximidade e colaboração entre setores.

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O networking continua no piso superior, com um coffee break, seguido da visita guiada pelos vários departamentos do belíssimo edifício do L’ Atelier des Créateurs. Antes das despedidas, fica um grande agradecimento especial ao Ricardo Conceição por nos ter aberto o Atelier Des Créateurs e à Eliana Macedo pela inteligente moderação.

Fica marcado na agenda o terceiro Meet the Maker, com data prevista para Setembro, em local a anunciar. Sabe-se já que será no Porto e que o tema será “Marketing de Influência”. O evento promete colocar os empresários, marcas e influenciadoras a reflectir. Drizinha (influencer) , Li Furtado (fundadora da marca Cinco Store) e Ludovic Freitas (especialista em Marketing Digital) são os rostos do próximo evento. As inscrições estão abertas aqui.

 
meetthemakerJoana Campos Silva